Nimona não é sobre cavaleiros e monstros
What a week huh? Mais uma quarta-feira! E dessa vez o tema de hoje é sobre o filme “Nimona”, da Netflix, onde eu vou falar um pouco sobre a trama e o que eu achei dessa animação!
O que é Nimona?
Nimona é uma história de Sci-Fi com Fantasia, baseado nos quadrinhos de mesmo nome, escrito por ND Stevenson, um homem trans, que foi responsável pela adaptação INCRÍVEL de She-Ra.
História
O filme narra a trajetória “Ballister Boldheart”, o primeiro cavaleiro plebe do reino, onde durante a cerimônia que o tornaria de fato um cavaleiro, ele assassina a rainha com a sua espada, porém, tudo isso foi totalmente acidental, e temos o Ballister tentando provar sua inocência, juntamente de Nimona, enquanto é perseguido por um governo fascista e o seu próprio namorado.
Protagonistas
Ballister Boldheart
A história gira em torno do Ballister, ou “Balli”, um homem gay e PCD, que desde criança estuda para se tornar um cavaleiro na Instituição (nome dado ao governo monarca que rege o reino), sendo um dos melhores alunos e um dos cavaleiros mais habilidosos. Ele namora Ambrosius Goldenloin.
Nimona
Nimona, é um metamorfo, com habilidades de mudança de forma, que vão desde criaturas e animais, até pessoas. Nimona é uma pessoa trans, gênero-fluído, não se sabe a idade de Nimona, pois existem relatos milenares sobre a sua existência, que inclusive influenciou na criação e na ideologia da cidade onde se passa toda a história. A forma que normalmente assume é de uma garota adolescente.
Antagonistas
Ambrosius Goldenloin
Herdeiro direto de Gloreth, ele é um dos cavaleiros mais famosos do reino e também está no mais alto da casta de nobreza. Ambrosius namora Ballister e é capitão da guarda, assumindo um papel de antagonista da trama, com a missão de capturar o próprio namorado após ele ser acusado de assassinato da rainha.
A Diretora
A Diretora é quem comanda a academia de cavaleiros da instituição, podemos dizer que ela é uma autoridade militar do reino, após a morte da rainha, da-se a entender que ela assume a regência. A Diretora é definitivamente a antagonista do filme, e é uma grande fascistinha elitista.
Universo
O universo onde se passa Nimona é extremamente interessante, é uma espécie de Cyberpunk, porém situado em um universo medieval, com traços de fantasia. Temos espadas, escudos, arcos, mas tudo isso totalmente tecnológico.
Governo
O Governo regente da cidade é uma Monarquia, nomeada “Instituição”, tanto a instituição, quanto a cidade, foi fundada por Gloreth, que cercou a cidade com uma muralha, e instituiu que seus herdeiros serão responsáveis pela proteção da cidade. Inicialmente, temos uma sensação de progressismo, pois a própria Rainha foi a primeira a aceitar um “plebeu” dentro da academia de cavaleiros. Porém, após a morte da rainha, começamos a ver um governo totalmente fascista regido pela Diretora, governado através de mentiras e força militar.
Trilha Sonora
A Trilha Sonora desse filme É PERFEITA, durante as cenas de ação do filme principalmente, temos majoritariamente músicas do gênero “Punk-Rock”, eu que sou uma grande amante desse estilo musical, sou suspeita para falar, mas combina de forma magistral com tudo, e também com a vibe de Nimona, que é totalmente caótica e imprevisível.
Conservadorismo e Transfobia
Ao decorrer da história, vemos como a sociedade enxerga Nimona, uma aberração que não deveria existir e merece ser exterminada.
O fato de Nimona mudar de forma, incomoda o Ballister no início, que profere frases famosas como “Você pode ficar normal?”, quase que uma versão 2.0 da frase “Você já tentou não ser trans?”, porém, vemos que tudo isso se trata de ignorância e pré-conceito por parte dele, onde em um determinado momento, ele se abre para entender, e começa a ver Nimona com outros olhos, como indivíduo, assim como ele, que tem dores e fragilidades.
Como eu disse no título, não é uma história sobre cavaleiros e monstros, é uma história sobre como uma sociedade conservadora e fascista tem ódio de uma minoria e quer silenciá-la a todo custo, não posso deixar de ver a relação disso em como somos tratades atualmente, mas nesse caso, é tudo muito literal, onde, por ser uma obra extremamente política, favorece muito a ideologia retratada.
Solidão Trans
Uma cena que me toca MUITO, é no final do filme, onde temos aproximadamente 3 minutos a melhor retratação da solidão trans que eu já vi: Vemos Nimona sendo vários animais, peixe, veado, pássaro, buscando aceitação pelos grupos desses animais, mas em todos os grupos que tentou se encaixar, a sua presença é rejeitada.
Até que Nimona enxerga uma menina humana, Gloreth, brincando com pedras, nesse momento, Nimona assume uma forma humana, quase que da mesma idade, as duas começam a brincar juntas o dia inteiro, até que em um determinado momento, Nimona se demonstra ser transmorfo para ela, e pela primeira vez, alguém a acolhe e aceita. Em seguida, voltam a brincar, porém, quando a aldeia onde Gloreth vive, vê Nimona, pegam tochas e garfos, chamando Nimona de monstro. Gloreth fica confusa com todo esse comportamento em relação a sua amizade, até que dizem: “Ela é um monstro”, e logo após ouvir isso, seu olhar se transforma em nojo, medo, repulsa.
A partir dela, vemos de novo Nimona sem ninguém. Retrata exatamente o sentimento da Solidão Trans, as pessoas não te aceitam em nenhum grupo, e quando você esconde isso, e decide contar a alguém de confiança, a pessoa se sente traída e começa a agir como se tivesse sido enganada. Como se você fosse o causador disso tudo, apenas por existir.
Esse filme retrata de forma clara, as vivências de uma pessoa trans, eu me emocionei a cada momento desse filme, e senti as dores, a cada fala de ódio direcionadas a Nimona, assim como eu me senti abraçada pela relação dela com Ballister, que aceitou, abraçou e respeita a sua existência profundamente. Justamente por ter alguém assim na minha vida, depois de anos sendo totalmente negligenciada e desrespeitada, é realmente um alívio.
Afinal, vale a pena?
SIM! Com toda certeza, apesar de eu ter focado na parte política da coisa, o filme ainda assim é uma aventura, é extremamente leve e divertido. É uma experiência incrível e até então, foi uma das obras que mais aqueceu meu coração nesse ano. Nimona é lindo, e é um verdadeiro tapa na cara de transfóbiques.